Bruno Jacaré critica amadorismo no MMA: “Há quem pague melhor as garotas das placas que os lutadores”

Bruno Jacaré critica amadorismo no MMA: “Há quem pague melhor as garotas das placas que os lutadores”
Bruno Jacaré na montada. Fotos: Acervo Pessoal

Bruno Jacaré na montada. Fotos: Acervo Pessoal

Professor de Jiu-Jitsu e lutador de MMA com 32 lutas profissionais, com 19 vitórias nos ringues e grades, Bruno Dias ganhou seu apelido após o ídolo Ronaldo Souza, o Jacaré.

O faixa-preta de Bragança Paulista reviu a carreira e listou lições valiosas para quem está começando a carreira, seja no Jiu-Jitsu esportivo ou nos ringues. Confira.

GRACIEMAG: O que lembra do seu primeiro contato com o Jiu-Jitsu?

BRUNO JACARÉ: Foi na igreja, acredita? Um amigo, após o culto, começou a falar de um tal de Jiu-Jitsu, para mim e outros dois amigos. Ele falou com entusiasmo, por mais de duas horas, contando a saga do esporte e seus benefícios e macetes. No outro dia, estávamos lá para ver o que era aquilo. Lembro que eu tomei umas cem quedas dele, fora os armlocks. Depois daquele noite, nunca mais parei de treinar. Hoje sou totalmente grato a meu amigo Evandro Abner, por ter feito isso por mim. Ele de fato mudou a minha vida.

Como você ganhou esse apelido, marcante no Jiu-Jitsu?

Ganhei o apelido justo por causa do Ronaldo Jacaré. Sempre me senti honrado por isso.

Quando percebeu que se tornaria um profissional do MMA?

Foi tudo natural, nunca foi escolha minha. Acabei lutando meu primeiro vale-tudo em 2005, sem experiência alguma em porrada. Eu só treinava Jiu-Jitsu e judô. Porém, aquilo era uma maneira de tentar ganhar dinheiro e continuar treinando e competindo no circuito do Jiu-Jitsu. Eu lutava só para poder competir de kimono.

Qual para você é a maior dificuldade de ser um atleta de MMA?

Acredito que o primeiro problema é chamar o MMA de profissional no Brasil, enquanto a maioria absoluta produz algo amador. Conheço eventos que pagam mais para as garotas que levam as placas dos rounds do que para os lutadores. Outro ponto que prejudica os bons lutadores é a falta de empresários competentes. Infelizmente, vi carreiras arruinadas por maus treinadores e empresários. O que mais vi no mundo do MMA foi o desperdício de grandes talentos, infelizmente perdidos por falta de orientação e bom planejamento de carreira.

Que dica daria para um jovem lutador que sonha com o UFC?

Para começar, é útil saber que entregar 100% em cada treino não será o bastante. Tenha um plano de carreira. Cerque-se de bons profissionais – sejam eles lutadores, empresários e profissionais que vão ajudar com a nutrição, preparação física, aprender inglês, aprender sobre marketing. Ser um bom lutador apenas não será suficiente.

Qual foi a maior lição que aprendeu durante as gravações do TUF Brasil 2, em 2013, entre as feras e novatos do UFC?

Se você acreditar que pode, você vai conseguir! Eu era um lutador de 66kg que me inscrevi na categoria até 70kg. Eles decidiram cortar essa categoria pois não viram muitos talentos nela, e assim fui convidado, entre poucos, para talvez lutar até 77kg. Fui selecionado entre mais de 800 lutadores. Acredito que tudo isso aconteceu simplesmente porque eu sabia que poderia fazer acontecer. E assim foi.

Qual foi sua luta de MMA mais marcante?

A primeira. Era apenas um jovem, pesava 55kg, e lutei contra um cara com 8 vitórias, e zero derrota. Ele era alguns quilos mais pesado e muito mais experiente. Eu só treinava quedas e finalizações. Então entrei lá apenas com o Jiu-Jitsu e o sangue no olho! Venci uma guerra de três rounds. Foi sem dúvida a luta mais importante da minha vida. Porque foi onde me conheci.

Quando você teve certeza de que se tornaria um professor de Jiu-Jitsu?

Sempre amei treinar e ensinar Jiu-Jitsu. Comecei como instrutor em 2008, ainda de faixa-roxa, e me tornei faixa-preta em 2012. Então me mudei para os Estados Unidos em 2017. No Brasil, ensinava jovens competidores de Jiu-Jitsu. Quando nos EUA eu comecei a ensinar crianças, pessoas acima de 50 anos e crianças com autismo e TDAH, foi quando senti que tinha me tornado de fato um professor de Jiu-Jitsu.

O Jiu-Jitsu salva, portanto?

Tenho certeza disso. Hoje aqui nos EUA eu uso o Jiu-Jitsu para ajudar pessoas, e diria até para salvar vidas. Antes, achava que era professor, mas, hoje vejo que estava longe de mim conquistar esse título. Eu realmente amo essa arte e amo tudo o que envolve o Jiu-Jitsu. Treinar todos os dias, ensinar todos os dias, arbitrar campeonatos, orientar os atletas nos eventos e competir.

A chama de competidor segue forte?

Demais. É o amor, né? Ainda mais hoje em dia, que tenho meus filhos lá me assistindo e apoiando. Isso é algo incrível. E há ainda um detalhe que preciso ser sincero. Eu amo vencer! Aquele sentimento quando o árbitro levanta o meu braço tem um valor incalculável, deixa a gente sempre querendo sentir aquilo de novo. E por isso não penso em parar.

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