No Jiu-Jitsu, Oliver Geddes realizou sonhos impensáveis e viveu lances épicos como juiz e competidor

No Jiu-Jitsu, Oliver Geddes realizou sonhos impensáveis e viveu lances épicos como juiz e competidor

Em 2014, em entrevista ao repórter Ivan Trindade, o campeão inglês Oliver Geddes lançou um artigo em GRACIEMAG, sobre suas conquistas e a rotina como faixa-preta de Jiu-Jitsu.

Oliver, falecido aos 40 anos esta semana, após lutar bravamente contra um câncer de intestino, listou os sonhos que realizara no esporte – como, por exemplo, conhecer cantos impensáveis do planeta, ou treinar com alguns dos lutadores mais respeitados da história do esporte.

Confira e aprenda com o eterno professor Oliver, um dos pioneiros da arte suave na Inglaterra.

* Vivendo o sonho como um embaixador do Jiu-Jitsu

Por Oliver Geddes, com Ivan Trindade

“Se você tivesse me dito no meu primeiro ano de faculdade que eu passaria os próximos dez anos da minha vida viajando e ganhando a vida como um artista marcial, eu jamais teria acreditado. Duvido que meus pais também ficassem impressionados, depois de anos investindo em minha educação, com a ideia de que eu seguisse um caminho mais convencional.

Pois graças ao Jiu-Jitsu, pude visitar dezenas de países ao redor do mundo. Compartilhei o tatame com alguns dos maiores praticantes da nossa era e recebi minha faixa-preta do maior competidor da história, meu professor Roger Gracie.

Conheci centenas, talvez milhares de pessoas unidas por uma paixão em comum por esse esporte. Pessoas que me abriram suas casas e academias sem nenhum motivo – além da arte suave, nosso elo.

Mas nem sempre foi fácil. No meu primeiro ano vivendo o sonho, passei seis meses hospedado num apartamento alugado por amigos. Dormia no chão do corredor, bem em frente ao banheiro, e a cada semana eu acordava quando um colega acidentalmente me chutava na cabeça ao passar por mim. Nos anos seguintes, adquiri pelo menos uma orelha de couve-flor impressionante, dedos que parecem galhos de árvore e uma lista completa de leves ferimentos que provavelmente ficarão comigo pelo resto da vida. Por outro lado, também tive experiências que ficarão comigo por anos.

Fiquei postado de noite numa arena ao ar livre em Abu Dhabi, e assisti a membros da Família Real torcendo por seus lutadores favoritos enquanto equipes de TV
transmitiam as lutas ao vivo para todo o país.

Naquele mesmo estádio, me vi aquecendo ao lado de Marcelo Garcia e, ainda um faixa-roxa emocionado, perguntei se ele poderia apertar minha mão para atrair mais sorte. Ele estranhou, mas atendeu. Uma pena que isso não trouxe sorte o suficiente.

Dei uma de tradutor e pedi uma pizza pelo telefone do quarto dos irmãos Miyao. Fiquei sem acreditar enquanto um certo Rafael Mendes me finalizava em 20 segundos. Passei 11 semanas em turnê pelo Canadá e EUA, em nove cidades diferentes, onde competia e e treinava. A cada semana, eu passava um tempo com novo grupo de pessoas, novos parceiros de treino e um novo ambiente antes de lutar, arbitrar e me mudar para uma nova cidade para começar o ciclo novamente.

E quanto a arbitragem? Bem, só isso renderia um livro inteiro de experiências. Já fui ameaçado, insultado e me chamaram de cego inúmeras vezes, quando não me acusavam de ignorar as regras do Jiu-Jitsu. Mas também houve boas histórias.

Para escolher apenas uma, do Campeonato Mundial de 2014, eu estava arbitrando uma partida em que Bernardo Faria enfrentou um oponente que eu não reconheci. Depois de dominá-lo, ele se virou para mim com um sorriso enorme e me disse que havia perdido para ele na final de uma competição anos antes e que finalmente havia se vingado. Seu oponente também sorriu, eu levantei a mão de Bernardo e eles saíram do tatame como amigos, conversando e brincando um com o outro.

E agora, como terminar este pequeno pedaço de artigo jornalístico? Não sei, simplesmente porque o estilo de vida do Jiu-Jitsu é algo que não tem fim.

O Jiu-Jitsu abriu portas e caminhos que sequer podia imaginar na primeira vez que pisei num tatame. Mas o melhor de tudo é que a jornada, por mais incrível que tenha sido, está longe de terminar. Ainda há muito a ser feito.”

E você fez, Oli. Você fez.

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